Acabei de dar uma vista de olhos à última edição do Folha 8 e ao ver a referência que no jornal fazem à próxima visita a Angola do actual Primeiro Ministro de Portugal, fiquei cheio de cuidados. Sou sincero, não é porque eu morra de amores pela governação do MPLA, muito pelo contrário. Mas Angola é a terra onde nasci e mesmo residindo fora dela há mais de quatro décadas, tenho sempre pela mesma um carinho especial.
Por Carlos Pinho (*)
Por isso, tenha muito cuidado, Presidente João Lourenço! Ouvi dizer e li que havia interesse dos actuais dirigentes angolanos em tentar que os portugueses ajudassem Angola e recuperar um poder económico idêntico aos dos finais do regime colonial, sem as iniquidades daquele, é claro.
Mas sabe, a actual tropa fandanga que governa Portugal, mesmo revestida de roupagens de cariz democrático, libertário, socialista, é a mesma gente que nos idos de 74 e pela voz do seu então líder e mentor, concordava com o jornalista da revista alemã Der Spiegel quando este lhe perguntou – “Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre portugueses brancos?” – respondeu – “Não hesitará nem pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo.” Por estas e por outras é que a grande maioria dos portugueses debandou na altura deixando nas então colónias um rasto de abandono e destruição que, diga-se em abono da verdade, foi muitíssimo do agrado dos novos líderes ditos democráticos dessas Províncias Ultramarinas-Colónias.
O problema é na verdade o tempo que é a coisa mais democrática que há e quando assenta a poeira das décadas passadas, em África, como em qualquer lado, se constata claramente a incompetência e estupidez dos políticos ditos revolucionários da altura. Fica essencialmente a fome e o subdesenvolvimento para a grande maioria e uma riqueza absurda para uma pequeníssima minoria desonesta e oportunista, e passadas décadas se chora sobre o leite derramado. Ó Nelson Mandela, porque não nasceste angolano! E o dinheiro gamado a Angola continua, muito dele, a desaguar alegremente em Lisboa. Nada efectivamente mudou.
Mas voltando à vaca fria, isto é, à tropa fandanga que irá visitar Angola nos primeiros dias do próximo mês de Junho, Senhor Presidente João Lourenço, tenha cuidado! Digo mais, Senhor Presidente João Lourenço, tenha muito cuidado! Aquilo é malta treinada em andar por Bruxelas a pedinchar, atrás de dinheiro fácil e logicamente promessas em ajudar Angola é que não irão faltar. O problema é que se o Senhor Presidente João Lourenço atentar ao que se tem passado nestas últimas semanas em Portugal, verificará que são apenas dias de brilhantes imbecilidades. Nada mais! Estratégia governativa, governação atenta e cuidada, são inexistentes. O mesmo se passará com qualquer cooperação futura. O que interessa na verdade, a esta malta, é que o dinheiro angolano continue a desaguar em Lisboa.
Esta gente não é a mesma que desbravou campos e sertões por África. Não estou a falar de movimentos imperialistas, mas de trabalho esforçado no dia a dia. Mesmo com todos os defeitos e abusos de um regime colonial. É que a gente daquele calibre de antanho, do trabalho esforçado diário, muita dela virou-se para a Europa e América do Norte, e é para lá que se foi à procura de melhores dias. Ficam em Portugal empregos miseravelmente pagos, abusos e opressões para os cidadãos dos países de língua oficial portuguesa, e não só, que caiem na esparrela do sonho europeu. É tudo ilusório.
Como diz o ex-Presidente de Portugal, Cavaco Silva, é só incompetência e mentiras. No fundo é um Primeiro de Abril Perene! Mas como diz um dos actuais próceres do regime português, quem se mete com o PS leva. Isso não lhe lembra nada da sua infância e juventude, Senhor Presidente João Lourenço? Talvez o senhor fosse muito novo, mas eu que tenho uma idade próxima da sua, embora com uns anitos a mais, lembro-me do que acontecia com quem se metia com a então União Nacional (UN-ANP). Porrada se refilar! É a velha ilusão do já visto!
Não assine nada, nem autógrafos! Não vá o diabo tecê-las. Aliás, por falar em diabo, não se esqueça que aquela gente por dinheiro é como o diabo por almas.
Por outro lado, se Angola de facto quer melhorar a sua economia e deseja atrair investimento estrangeiro, só tem de publicar legislação que facilite a vida dos investidores estrangeiros sem lhes impor um limite superior para as suas cotas nas empresas. Nem a obrigatoriedade dessas empresas com capital estrangeiro, terem um sódio maioritário angolano que, como é sabido e por demais recorrente em Angola, na maioria dos casos apenas vai chular os investidores estrangeiros. O que uma boa legislação tem de servir é para impor protecções aos trabalhadores angolanos garantindo-lhes condições salariais dignas e de progressão futura nas suas carreiras profissionais. Demasiada legislação é apenas demasiada complicação e por isso Angola tem de ter cuidado e ponderar a quem deve pedir ajuda. Não me parece que o actual governo português seja um parceiro fiável. Basta ver a bagunça actualmente reinante em Portugal.
Entretanto, aproxima-se a altura dos santos populares e a voz do povo, que é a voz de Deus, já vai preparando quadras adequadas à época que se vive em Portugal:
Ó Costa, chama o SIS.
Ó Costa, chama o SIS
Que o puto mal-criado
Tem caca no nariz.
(*) Aposentado. Ex-docente universitário.